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Arqueologia Industrial

Museu Mineiro do Lousal

O texto que se apresenta é um excerto da comunicação "Um Projecto de Musealização para as Minas do Lousal" de Luisa Santos e Alfredo Tinoco da 
Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial
[www.cp.pt/apai/] apresentada à 10th International Conference of the Conservation of Industrial Heritage, que decorreu entre 22 e 29 de Junho de 1997 em Thessaloniki (Atenas) na Grécia.
 
 

 

Integrada na Faixa Piritosa Ibérica que, com cerca de 250 Km de extensão e uma largura que chega a atingir os 40 Km, tem início no Vale do Sado e se prolonga até ao Vale de Guadalquivir, próximo de Sevilha (Espanha), a mina do Lousal
 
(situada na freguesia de Azinheira dos Barros, concelho de Grândola, distrito de Setúbal) foi explorada entre 1900 e 1988, data em que foi dada como encerrada a sua actividade extractiva.
 
 
Foi um lavrador da região, António Manuel, que, em Agosto de 1882, requereu ao Ministério das Obras Públicas e Minas o diploma de descoberta do jazigo do Lousal, que efectivamente foi registado em seu nome no ano seguinte. A concessão provisória foi-lhe atribuída em 1885 e, mais tarde, transmitida ao engenheiro de minas Alfredo Masson, que a manteve até 1899 (data de alvará de abandono). Guilherme Ferreira Pinto Basto foi quem obteve a nova concessão, em 1900. Novas concessões foram feitas, em 1904 (Lousal Novo) e em 1922 (Lousal nº 2, Lousal nº 3, Sítio do Montado e Cerro dos Arneirões). Entretanto, Guilherme Pinto Basto transmitira o direito de exploração da mina à firma Minas dos Barros, Lda., em 1910. Cinco anos mais tarde a concessão passava para a empresa Henrique Burnay & Companhia e, em 1934, para a Société Anonyme Belge des Mines d'Aljustrel. Durante dois anos a exploração das duas minas foi feita pela mesma empresa que, em 1936, passou à sociedade belga Mines et Industries S.A. a exploração do Lousal.
 

Foi a partir precisamente da terceira década do nosso século que o Lousal começou a ser explorado de forma mais intensa, facto a que não é estranha a importância crescente, do ponto de vista económico, das pirites cupríferas, em virtude da procura do ácido sulfúrico. A SAPEC, que em 1928 começava a laborar em Setúbal com uma fábrica de superfosfatos, pertencia ao mesmo grupo proprietário das minas e era um dos consumidores internos das pirites do Lousal, juntamente com a CUF (ainda que esta estivesse principalmente ligada ao complexo mineiro de Aljustrel).
 
 
Foi entre os finais dos anos 50 e o início dos anos 60 que se iniciaram estudos para a mecanização das minas do Lousal, tendo havido contactos com as Minas de Montevechio, na Sardenha, cujo chefe dos serviços mecanizados fora o inventor dos protótipos de elementos-chave introduzidos nos trabalhos de lavra do Lousal - as pás carregadores pneumáticas autotransportadoras e os camiões pneumáticos autotransportadores de entulhos ("dumpers") (1).
 
 
O processo da mecanização, praticamente concluído em 1962, foi acompanhado da ligação das Minas do Lousal à rede rodoviária nacional, cujos trabalhos foram executados por trabalhadores que, devido à própria mecanização, haviam sido considerados "excedentes". É também durante este período que se incrementam algumas acções de carácter social, como a construção de habitações para o pessoal das minas, casa de saúde, farmácia, posto médico, instalações comerciais e salão de festas.

Se analisarmos os dados estatísticos referentes à população do Lousal, de 1911 a 1960, assistiu-se ao seu acentuado crescimento populacional (de 167 habitantes em 1911 para 1273 em 1940 e 1906 em 1960), iniciando-se a partir de então um decréscimo da população residente, numa primeira fase certamente ligado à mecanização do trabalho mineiro (1252 habitantes em 1970 e 957 em 1981) e, posteriormente, ao fecho da mina (679 habitantes em 1991).
 

O território que acabámos de vos apresentar, após quase um século de exploração mineira, é hoje uma zona degradada dos pontos de vista ambiental e paisagístico, socialmente e economicamente deficitária, marcada por restos da exploração e em que são visíveis os estigmas que sempre são inevitáveis com o abandono de projectos que sustentaram durante muito tempo e em exclusivo o desenvolvimento local.

Felizmente que, no caso em apreço, menos de dez anos após o encerramento, o antigo proprietário das minas e o município local uniram esforços para promover no Lousal uma iniciativa de desenvolvimento integrado, capaz de reabilitar economicamente e socialmente a região e com uma componente cultural.
 
 
A promoção e a gestão do "Programa de Desenvolvimento lntegrado e de Redinamizacão do Lousal" pertencem a uma fundação (Fundação Frederic Velge) que congrega as duas instituições citadas. O financiamento é parcialmente suportado por fundos comunitários.

Para a realização da parte cultural foi convidada a Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial (APAI) que se encarregou de desenvolver o "Projecto de Musealização da Mina do Lousal".

Como acima dissemos, trata-se de um projecto de desenvolvimento integrado que inclui a criação de infraestruturas turísticas (hotelaria, espaços de lazer, campismo, turismo rural, restaurantes) de formação profissional e criação de micro-empresas e de equipamentos culturais que em conexão com os restantes programas, assegurem a sua quota-parte da viabilidade do projecto. Por essa razão, a concepção e a implantação do programa museológico implicam um diálogo constante com os promotores e a população, de modo a garantir a qualidade do projecto e a salvaguarda dos interesses de todas as partes. Também por essa razão o programa tem de ser faseado, ao longo de alguns anos, ainda que fosse mais aliciante a sua abertura ao público em simultâneo e com a apresentação da totalidade do Museu Mineiro.
 

Refira-se ainda que, uma vez assegurada a viabilidade do projecto, trata-se de uma oportunidade única e pioneira no nosso país de musealizar uma mina. De facto, nas últimas décadas Portugal tem assistido ao encerramento sucessivo das suas minas sem que jamais tenha sido possível mostrar ao público o que é a actividade mineira (2).

 

O projecto do Lousal reúne todas as potencialidades para tornar-se um verdadeiro pólo de dinamização com três vertentes:

Cultural - graças à perservação e reabilitação do património mineiro (nas suas componentes de arqueologia e história mineira, de história geológica e de arqueologia industrial);
Científica -  graças ao estudo e à divulgação que se pode fazer desse património, nomeadamente através de um Centro de Documentação/Arquivo a criar anexo ao Museu, e das publicações do mesmo; e
Pedagógica  - graças à possibilidade que pela primeira vez se oferece ao público português, nomadamente aos estudantes e outros interessados, de tomar contacto com o universo das minas, da mineração e dos Mineiros.
 

Tal projecto é então uma infraestrutura de carácter sócio-cultural de que a região e o país carecem. E se é certo que se trata de uma iniciativa de âmbito local não é menos verdade que o alcance que terá excede em muito a região do Lousal e diz respeito a todo o país.

A musealização de um espaço mineiro assume, pois, uma dupla importância: para a população local, pela oportunidade de redinamização sócio-económica e pela reabilitação de um património sempre presente no quotidiano dos habitantes e nas suas representações mentais, nomeadamente afectivas; e para os visitantes que têm uma apetência pelo universo mineiro, já pelo conhecimento dessa realidade, já pela sedução por esse mundo desconhecido e obscuro feito de mistérios em que tudo se passa nos subterrâneos.
 
 
 
Sublinhe-se, finalmente, que se pretende com este projecto contribuir para o desenvolvimento social e cultural dos habitantes e dos visitantes, para o enriquecimento económico do local, corrigindo assimetrias, para um aumento progressivo do bem estar pessoal e social e da qualidade de vida, isto é, para o desenvolvimento integral e não apenas para o crescimento económico.
 
 

NOTAS:

(1) Cf. SILVA, Artur Henrique Alegria Ferreira da - As Minas do Lousal. Boletim de Minas. Lisboa: Direcção-Geral de Minas e Serviços Geológicos. 5:3 (1968).
(2) Excepções são uma pequena exposição/rnuseu numa antiga mina de ferro a céu aberto em Moncorvo e uma exposição no local onde funcionou a mina de carvão de S. Pedro da Cova.
   
  [Sublinhados da responsabilidade da C.M.G.] 

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